Puno: Conhecendo a Capital do Folclore Peruano
Conhecida como a capital folclórica do Peru, Puno se destaca por sua rica herança cultural, suas danças tradicionais e suas festas coloridas. Além disso, é a cidade base ideal para visitar uma comunidade única no mundo, que vive a centenas de anos em plataformas vegetais flutuando pelo lago navegável mais alto do mundo. Nesse post, compartilho como foi a minha experiência visitando Puno, impasses com a polícia, curiosidades sobre as ilhas e outras coisas mais.
A saga para atravessar a fronteira Bolívia – Peru
A saga de visitar Puno, no Peru, começou ainda em solo boliviano. Como era final de 2021, ainda vivíamos com algumas restrições da pandemia de COVID-19, dentre essas estava a proibição de atravessar a fronteira da Bolívia com o Peru via terrestre. Conversando com a italiana e o norte-americano que encontrei dias atrás no Uyuni, estes me falaram que conseguiram passar sem maiores complicações, apenas explicaram aos policiais da fronteira que iriam fazer uma visita de poucos dias, retornando na sequência. Fui com esse mesmo pretexto em mente, porém as coisas não saíram exatamente da forma como eu esperava.
Logo após sair do hotel onde estava hospedado em Copacabana, peguei uma das vans que levam os passageiros para vários locais nas redondezas, incluindo o posto de fronteira. Chegando lá, vi um fluxo enorme de pessoas atravessando sem o menor tipo de controle. Sendo assim, apenas me infiltrei no meio daquelas pessoas e segui rumo ao portão. Nesse momento, percebi um policial gritando e apontando em minha direção, e tal qual o aluno que evita contato visual com o professor quando esse deixa uma pergunta no ar, apenas segui o rumo que as demais pessoas estavam tomando. Não deu outra: o policial correu até onde eu estava e, me puxando pelo braço, me chamou de canto para termos uma conversa.
Nessa conversa, o policial explicou que eu estava cometendo um crime grave em atravessar a fronteira daquela forma, sendo que o correto seria voltar para La Paz, pegar um voo até Lima, cumprir uma quarentena de 7 dias e após isso realizar um novo teste de Covid, e caso esse acusasse negativo, poderia então iniciar minha jornada pelo Peru. Obviamente não iria fazer esse rolê todo, até porque em poucos dias eu já estaria embarcando de volta ao Brasil. Sabendo que eu era o errado da história, expliquei ao policial que não sabia da questão da proibição, pedi desculpas e falei que havia desistido de cruzar a fronteira, que iria voltar para La Paz no mesmo dia. Foi aí que este me mostrou um par de algemas, alegando que eu não poderia retornar por conta própria para La Paz e que algum dos seus colegas iria providenciar uma viatura para me conduzir até lá. Nesse momento ele já estava com meu passaporte em mãos e falou que apenas me devolveria chegando na delegacia. Fiquei em silêncio, apenas observando ele falar e balançar as algemas. Pouco depois, ele entrou para o escritório da imigração e permaneceu por lá durante cerca de 15 minutos.
Passado alguns minutos, ele retornou. Falou que havia conversado com seus colegas e que estavam de acordo de me liberarem mediante o pagamento de uma “contribuição” para a polícia local. Aceitei de pronto (não estava afim de gastar meu réu primário, ainda mais em outro país rsrs), e sacando a minha carteira lhe entreguei uma nota de 100 bolivianos (que valia cerca de 80 reais na época). Feito isso, agradeceu a contribuição e ressaltou que a mesma iria para a instituição da polícia e não para o bolso dele ou seus colegas. Naquele momento, o que menos me interessava era saber o destino do dinheiro. Guardei meu passaporte, cruzei o portão e entrei no primeiro táxi que estava estacionado do lado peruano. O rolê em terras Incas começava a partir dali. Pedi ao taxista que me levasse até uma casa de câmbio no centro de Yunguyo, troquei alguns pesos bolivianos por soles e fui até o ponto de vans da cidade, para iniciar o deslocamento até Puno.
Chegada em Puno e primeiras impressões
A viagem até Puno levou cerca de três horas, com algumas paradas para embarque e desembarque de passageiros. Essas vans são o meio de transporte mais acessível para os locais realizarem esse trajeto, ou seja, os veículos vão na lotação máxima de pessoas e mercadorias. Como já havia reservado a minha hospedagem em Puno, ao desembarcar no terminal municipal já fui em direção a ela. Conversei com a moça da recepção sobre a minha vontade de fazer o passeio até as Ilhas Flutuantes de Uros, que são organizações muito curiosas e atraem turistas do mundo todo. De pronto, ela já me passou os valores dos ingressos e reservou o transporte que me buscaria na porta do hostel no dia seguinte. Feito isso, deixei minha mochila no quarto e segui rumo ao centro da cidade, para conhecer e procurar algo para comer.

Falando um pouco mais sobre a cidade, Puno está localizada no sul do Peru, à beira do Lago Titicaca, o lago navegável mais alto do mundo. Conhecida como a “capital folclórica do Peru”, Puno é famosa por sua rica cultura indígena, especialmente as tradições dos povos Aymara e Quechua. A cidade é também um importante ponto de partida para explorar o lago e suas ilhas, como a Ilha de Uros, habitada por povos que vivem em ilhas artificiais feitas de totora (que veremos ainda nesse post). Além de sua beleza natural, Puno é conhecida por suas festas tradicionais, como a Festa de la Candelaria, que acontece em fevereiro e é uma das maiores celebrações religiosas e folclóricas do país, reunindo danças, música e vestimentas típicas. A cidade possui cerca de 150 mil habitantes, mas se considerarmos os habitantes das zonas rurais e povoados próximos, esse número pode superar os 200 mil.

A Catedral de Puno, oficialmente conhecida como Catedral Basílica de Puno, é um dos principais marcos históricos e arquitetônicos da cidade. Localizada na Praça de Armas, no centro de Puno, a catedral é um exemplo impressionante da fusão entre a arquitetura colonial espanhola e influências locais andinas.
Alguns detalhes interessantes sobre a catedral:
História e Construção: A construção da catedral começou em 1757 e foi concluída em 1805, embora tenha passado por algumas reformas ao longo dos séculos. Foi construída sobre as ruínas de um templo Inca, o que é uma característica comum nas igrejas coloniais do Peru, onde os espanhóis construíam suas igrejas sobre locais sagrados dos povos indígenas.
Arquitetura: A catedral é construída principalmente em pedra e tem um estilo que mistura o barroco com elementos do renascimento e algumas influências andinas. Sua fachada é decorada com motivos típicos da época colonial, mas com detalhes que refletem a influência local. As torres da catedral são um dos destaques da sua estrutura, com uma grande altura que domina a praça. O interior é adornado com detalhes em madeira esculpida e retábulos dourados que seguem o estilo típico das igrejas coloniais.
Cultura e Religião: A Catedral de Puno não é apenas um centro religioso, mas também um símbolo de fusão cultural. Durante as celebrações religiosas, como a Festa de la Candelaria, a catedral se torna o centro das festividades religiosas. As cerimônias são realizadas em grande escala e, em algumas delas, danças e músicas tradicionais andinas podem ser vistas na praça em frente à igreja.
Tesouro Artístico: O interior da catedral abriga algumas peças de grande valor artístico e histórico. Destacam-se os altares dourados, as imagens de santos e os quadros religiosos. A catedral é também conhecida pela Imagem de Nossa Senhora da Candelária, que é particularmente importante durante a festa que leva o nome dela.
Influência Andina: Embora tenha sido construída pelos colonizadores espanhóis, a Catedral de Puno possui uma conexão muito forte com as tradições locais. Os povos indígenas da região continuam a frequentar a catedral, e há uma interação entre as crenças católicas e as práticas religiosas ancestrais. A mistura de elementos indígenas e europeus pode ser observada tanto na arquitetura quanto nas celebrações.
Patrimônio Cultural: A Catedral de Puno é um Patrimônio Cultural da Nação do Peru, reconhecida por seu valor histórico, arquitetônico e cultural. Ela não é apenas um ponto turístico, mas também um importante local de culto e tradição para a população local. A catedral oferece aos visitantes uma visão única da herança religiosa e cultural de Puno, refletindo a profunda interconexão entre o cristianismo e as antigas crenças andinas que ainda permeiam a região.
Sobre a economia de Puno, essa é um mix de turismo (especialmente ligado ao Lago Titicaca), agricultura (com destaque para produtos como batata, milho e quinoa), pesca artesanal, artesanato e algumas atividades comerciais. A cidade ainda enfrenta desafios relacionados à infraestrutura e à pobreza, mas a riqueza cultural e natural da região tem impulsionado o seu crescimento econômico, especialmente no setor turístico. Algo bem curioso que encontrei na cidade são esses murais com anúncios de vagas de emprego, onde empregadores colocam suas vagas abertas e deixam seus contatos para que as pessoas que estão procurando possam facilmente encontrar. Um verdadeiro LinkedIn Inca (sem a parte da parte da disputa por ego, exibição de mimos corporativos ou posts para comemorar promoções ou aniversário de tempo de empresa rsrs).

Na sequência, adentrei ao mercado público municipal. A maioria das barracas de encontrava fechada, assim como o fluxo de clientes estava bem baixo. Imagino que pela proximidade das festas de final do ano, a maioria dos feirantes devia estar de recesso. Ainda assim, deu pra ter um panorama do local que a primeira vista se mostrou ser bem organizado e limpo.


A cidade me pareceu ser bastante organizada e vibrante, pude perceber vários bares e restaurantes bem estruturados, assim como lojas e demais estabelecimentos com muitas opções de mercadorias. Jantei e voltei cedo para a acomodação nesse dia. Ainda estava meio traumatizado da passagem pela imigração e não estava afim de encontrar algum funcionário da polícia ou guarda que me pedisse o registro de entrada no país (até porque não teria nenhum pra apresentar rsrs). O dia seguinte seria bastante cheio e preferi não sair à noite.
Visitando a Ilha de Uros
No dia seguinte, peguei a van que me levaria até o porto da cidade. Chegando lá, entrei em uma espécie de escuna, com dois andares e muitas pessoas a bordo. No caminho, o guia foi explicando detalhes de como seria a dinâmica do passeio, assim como curiosidades sobre as ilhas e seus habitantes. A navegação desde o porto de Puno levou pouco menos de uma hora e foi repleta de belas paisagens em meio ao Titicaca.

As Ilhas de Uros são uma das atrações mais curiosas do Lago Titicaca, no lado peruano. Elas são habitadas por uma comunidade indígena que mantém uma forma de vida única, vivendo em ilhas artificiais feitas de totora, uma planta aquática abundante na região (equivalente ao junco, no Brasil) e que possui propriedades extremamente resistentes à água, sendo utilizada até mesmo na alimentação dos mesmos (e por fins de curiosidade, tem gosto de alface rsrs). A comunidade Uros tem uma história que remonta a mais de 3.000 anos, sendo que a origem das ilhas artificiais remonta ao período pré-colombiano, quando os Uros, para se protegerem de invasões, decidiram viver em ilhas flutuantes, longe das terras continentais.

As ilhas são feitas exclusivamente de totora, e o processo de construção é bastante complexo. As raízes da planta são usadas para formar a base das ilhas, enquanto a parte mais macia da planta é colocada por cima para criar uma camada mais sólida. Essa estrutura precisa ser renovada constantemente, pois a totora apodrece ao longo do tempo. A cada 15 a 20 dias, as camadas superiores da ilha são substituídas para manter a flutuabilidade. As ilhas são pequenas e podem abrigar apenas algumas famílias em cada uma delas. Existem mais de 40 ilhas flutuantes na região, mas elas são espalhadas por uma área extensa do Lago Titicaca.
A vida na Ilha de Uros é totalmente adaptada ao ambiente. Os habitantes da ilha praticam uma agricultura de subsistência, cultivando batatas, milho, quinua e outras plantas que conseguem cultivar nas pequenas porções de terra nas ilhas. Além disso, eles pescam para complementar sua alimentação, utilizando barcos feitos também de totora. Outro fato curioso é sobre a sua organização política, baseada em uma estratégia comunitária de cooperativismo, com uma liderança informal e descentralizada, conforme nos explicou o guia. As decisões são tomadas coletivamente, com ênfase no consenso e no respeito às tradições. As ilhas possuem uma espécie de “líder” que é escolhido anualmente de forma informal. Essa pessoa não possui poderes absolutos, mas sua função é coordenar as atividades, representar a comunidade em questões externas e tomar decisões importantes relacionadas ao bem-estar coletivo. Na ocasião, o líder (à esquerda, na foto abaixo) nos recebeu assim que o barco atracou na ilha.

Cada ilha de Uros é composta por famílias que convivem em estreita colaboração e compartilham responsabilidades para o funcionamento diário da ilha. As tarefas cotidianas, como a pesca, a agricultura e a manutenção das ilhas flutuantes, são distribuídas entre os membros da comunidade de acordo com suas habilidades e a necessidade da ilha. São atividades realizadas essencialmente por homens. As mulheres ficam encarregadas dos cuidados com as crianças e com as moradias, assim como a produção de artesanatos, que são uma das principais fontes de renda das comunidades, impulsionadas pelas atividades turísticas.

Como dito anteriormente, os habitantes das ilhas são de origem Aymara e Quechua, e usam esses idiomas para a comunicação entre eles no dia-a-dia. Por terem contato com os habitantes do continente, também falam o espanhol. Em um momento da visita, as senhoras da imagem abaixo cantam uma canção de boas-vindas nos três idiomas, mostrando como as tradições ainda seguem vivas mesmo após tantos anos da chegada dos colonizadores no país. As mulheres nas Ilhas de Uros desempenham um papel importante nas decisões da comunidade, apesar de, tradicionalmente, as lideranças formais serem exercidas por homens. Nos últimos anos, a comunidade tem enfrentado desafios com as mudanças trazidas pela modernização e pela pressão turística. A gestão política interna tem se adaptado para lidar com esses novos desafios, buscando um equilíbrio entre a preservação de suas tradições e a participação no desenvolvimento regional.

Sobre a integração com o restante da região, embora os Uros mantenham suas tradições, eles também interagem com Puno e outras comunidades da região, especialmente no que diz respeito ao comércio, à educação e à saúde. O líder comunitário pode representar os Uros em eventos externos, como reuniões com autoridades locais ou visitas turísticas, como foi o caso. O contato com a sociedade moderna trouxe alguns ajustes na organização política, especialmente para lidar com questões como educação e infraestrutura. A gestão do turismo, garantindo que ele seja sustentável e beneficie a comunidade, é uma preocupação crescente. Embora os Uros possuam uma organização própria e independente, eles também são cidadãos do Peru e, portanto, fazem parte do sistema político nacional. A interação com o governo peruano ocorre por meio de representantes regionais de Puno, que muitas vezes visitam as ilhas para discutir questões de saúde, educação e infraestrutura.
Em um outro momento da visita, fomos conduzidos a uma outra ilha, mas dessa vez através de embarcações fabricadas nas ilhas e feitas a base de totora. Chegando nessa nova ilha, fomos recebidos por simpáticos mini marinheiros (ou seria mini “lagueiros”, já que estamos em um lago? rsrs), que trataram de amarrar a embarcação para que descêssemos em segurança. Essas embarcações não possuem nenhum tipo de motor de propulsão, sendo “empurradas” através de chalanas tradicionais motorizadas. Quando usadas para transportar poucas pessoas, a propulsão é feita à remo.



Assim como em qualquer outro lugar visitado em larga escala, o turismo massificado nas ilhas vem levantando diversas questões sobre autenticidade cultural. Lembro de ter lido em alguns outros fóruns, enquanto planejava o roteiro da viagem, que as ilhas não passavam de uma enganação do tipo “pega turista”, que os Uros moravam no continente e se deslocavam até as ilhas exclusivamente para fazer encenações aos visitantes. Acontece que muitos visitantes chegam com a expectativa de ver uma vida tradicional intacta, o que é algo extremamente utópico. Com a chegada de milhares de turistas, obviamente ocorre uma sobrecarga nas comunidades locais, afetando suas condições de vida, rotinas e gerando tensões sobre a maneira de como as tradições são mantidas e manifestadas. Como o intuito do blog é trazer relatos e curiosidades sobre os lugares que visito e não ser um tribunal sobre a autenticidade das manifestações culturais, vamos tocar o barco, literalmente. A próxima parada é um mais uma das ilhas do Titicaca, dessa vez um tanto mais distante do continente.
Visitando a Ilha Taquile
Após pouco mais de duas de navegação, com muito vento e fortes ondas desafiando as habilidades do nosso comandante, chegamos em terra firme. A Ilha Taquile é uma das joias Titicaca e está localizada a cerca de 35 km da cidade de Puno. Conhecida por suas paisagens deslumbrantes e rica tradição cultural, Taquile é um lugar onde o tempo parece ter parado, mantendo práticas ancestrais que remontam à época dos Incas.


A comunidade de Taquile é composta por cerca de 2.500 pessoas e preserva tradições muito antigas, com forte influência Inca. Eles mantêm um modo de vida baseado em costumes agrícolas e tecelagem, e o uso do Quechua, a língua nativa, é predominante, embora o espanhol também seja falado. Sobre a tecelagem, os tecidos de Taquile são mundialmente conhecidos. Tanto homens quanto mulheres participam da tecelagem manual, criando peças complexas como ponchos, chullos (chapéus de lã) e xales. A tecelagem em Taquile é considerada uma das mais refinadas do mundo, e a ilha recebeu o reconhecimento da UNESCO em 2005 como parte do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

O uso de chullos (chapéus de lã) é um símbolo importante da cultura taquileña. O tipo de chullo usado indica o estado civil do indivíduo. Por exemplo, homens solteiros usam um chullo com listras vermelhas, enquanto os casados usam um chapéu vermelho sem listras. É uma espécie de Tinder Inca rsrs.

Ainda sobre a organização social da ilha, temos que a sociedade taquileña é comunitária e coletiva. A economia local baseia-se na agricultura e pesca, e as tarefas são divididas entre os membros da comunidade. Eles seguem o sistema tradicional de “ayllu”, uma forma de organização social em que as famílias se ajudam mutuamente, especialmente nas épocas de colheita.

As festas tradicionais em Taquile são momentos importantes de celebração. Uma das mais destacadas é a Fiesta de la Virgen del Carmen, quando a comunidade realiza danças, músicas e rituais para honrar a Virgem de Carmen. Esses eventos são uma verdadeira expressão cultural e atraem visitantes que desejam conhecer mais profundamente a vida local. Outro costume bastante peculiar dessa ilha, principalmente se comparado com comunidades mais conservadoras, é de que casais vivem juntos antes de se casar oficialmente — prática aceita e chamada “servinacuy”. O casamento é uma celebração coletiva que envolve toda a comunidade, com muita dança, comida e música.

Apesar das condições climáticas desafiadoras da região, os habitantes de Taquile mantêm técnicas agrícolas ancestrais, herdadas dos incas, que garantem a produção de alimentos e a preservação do solo. Como se pode ver na imagem abaixo, é comum o uso dos terraços agrícolas, chamados de andenes, que são estruturas de pedra construídas nas encostas da ilha. Eles evitam a erosão, conservam a umidade do solo e aproveitam melhor o terreno acidentado, sendo uma herança dos incas amplamente usada com eficácia até os dias atuais. Dentre as principais espécies cultivadas, estão as batatas, a quinoa, o milho e a cebola.

Um dos cartões postais da ilha é o arco de Taquile. O arco funciona como um portal simbólico: ao atravessá-lo, o visitante entra em um espaço onde as regras e tradições ancestrais são respeitadas. Marca a transição entre o mundo moderno e a vida comunitária e espiritual andina. É decorado com símbolos andinos esculpidos na pedra, como o sol, a lua e figuras da natureza, que representam a cosmovisão dos Andes. Para quem visita a ilha, passar por esse arco é mais do que entrar num lugar: é entrar num modo de vida diferente, onde as tradições andinas continuam vivas.

Logo após a visita ao arco, chegou o momento de encerrar o passeio pela ilha. Nossa embarcação já estava nos aguardando no local em que havíamos descido, sendo iniciada a navegação de volta à Puno. Dessa vez as águas estavam bem mais tranquilas, sendo possível contemplar as paisagens até mesmo pela área externa da embarcação. No caminho, encontramos diversos habitantes locais e da ilha de Uros realizando atividades de pesca e até mesmo de coleta da totora, como na imagem abaixo. Possivelmente para uso na substituição das bases das ilhas.


Chegando de volta a Puno, foi necessário pegar uma condução até o hostel. Sempre que via vídeos de viagem no Peru, ficava intrigado com a presença dos Tuk Tuk, que nada mais são do que motos adaptadas para o transporte de passageiros. São muito comuns em países árabes, e facilitam o transporte principalmente de mulheres, que por usarem vestimentas longas ficam extremamente desconfortáveis em motos. O trânsito peruano é conhecido por ser um dos mais caóticos do mundo, e os tuk tuk dão uma contribuição generosa para tal reconhecimento. Vi um estacionado próximo ao porto e não diexei passar a oportunidade. Após furar vários sinais vermelhos, andar sobre calçadas e até mesmo no meio de pedestres, cheguei são e salvo na hospedagem.

Cheguei moído na hospedagem, a ponto de recusar até mesmo o convite dos meus amigos peruanos para dar um rolê durante a noite na cidade. Estava bastante contente pelas experiências que vivi durante o dia, mas a lembrança de que deveria encarar novamente a fronteira, dessa vez para entrar na Bolívia, de deixou um tanto preocupado.
No dia seguinte, iniciei a saga de volta para a Bolívia. Fui até o terminal de vans, comprei a passagem e aguardei até a ocupação da mesma ficar estilo trem da Luz em horário de pico rsrs. Porta fechada, seguimos rumo à fronteira. Na metade do caminho, uma abordagem policial no mesmo estilo da que havia presenciado dois dias atrás. A mesma conversa, as mesmas tratativas, e lá se foram os últimos soles que tinha comigo. De volta a van, cheguei na cidade da fronteiro Yunguyo e fui para o tudo ou nada na passagem da imigração Peu-Bolívia. Dessa vez passei liso, sem abordagens.
Chegando em Copacabana, comprei o primeiro bilhete de ônibus para La Paz que estava disponível. Ainda na adrenalina de ter sido quase preso, mas bastante feliz por tudo que vi durante essa breve passagem pelo Peru. Com certeza pretendo voltar novamente e conhecer mais do país, principalmente a região de Cuzco e arredores. Voltando para La Paz, foi o momento de fazer os últimos rolês antes de voltar para o Brasil. Mas isso já é assunto para outro post.